A Rendição de la Ravardière no Forte São Luís
por EUGES LIMA*
|
Foi numa manhã de quarta-feira, no dia 4 de novembro de 1615 que o general francês Daniel de la Touche, o senhor de la Ravardiere, depois de muito postergar, no afã de ganhar tempo a espera de socorro da França que nunca veio, finalmente, sem mais alternativas e pressionado pelo capitão Alexandre de Moura, resolveu se render oficialmente às tropas portuguesas entregar o forte São Luís.
Toda essa história está descrita no documento de N.º 18, intitulado "Auto de posse que se tomou da fortaleza", apenso ao Relatório de Alexandre de Moura, capitão-mor do Maranhão, onde ele relata de forma detalhada como se deu essa conquista aos franceses, anexando 25 documentos, acerca desses acontecimentos e que foram entregues a V. Majestade o Rei Felipe II em setembro de 1616.
Hoje, os originais desses documentos, encontram-se no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa e em 1905, foram publicadas suas transcrições nos Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
Em 2010, o Instituto Geia, com base na edição dos Anais da Biblioteca Nacional, também publicou o Relatório de Alexandre de Moura e outros documentos sob o título de "A Rendição dos Franceses do Maranhão".
Embora alguns digam, que a rendição de la Ravardière se deu no forte do Sardinha, na verdade, não é bem assim. O forte pertencia aos franceses, teve seu nome substituído por Alexandre de Moura para forte São Francisco e obviamente, por questões estratégicas, foi o primeiro a ser tomado pelos portugueses, quando surpreendentemente conseguiram entrar na barra do Maranhão com sua poderosa esquadra de nove navios e seiscentos homens.
O forte do Sardinha, foi nessa história, apenas o local marcado, onde muitos desses personagens, Alexandre de Moura, la Ravardière, Diogo de Campos Moreno, Francisco de Frias de Mesquita (engenheiro mor do Brasil) e tantos outros que se encontraram inicialmente, naquela manhã de 4 de novembro para então a partir desse forte, irem tomar posse da principal fortaleza, o forte São Luís, e finalmente selar o fim da França Equinocial, onde ocorreu de fato, a rendição oficial e incondicional de la Ravardière e seus homens, com direito a entrega da "chave" do forte São Luís pelo comandante francês ao capitão Alexandre de Moura, conforme comprova o referido documento de N.º 18:
[...] e estando as ditas pessoas juntas, veio o d. general francês, e deu por resposta que elle estava de acordo no apontamento atrás, e que cada ves que quizessem poderiao ir tomar posse do forte Sant Luís em nome de Sua Mag. de de que fez o termo assima, e assinou de sua própria mão, o que visto, e ouvido pelo dito capitão mor Alexandre de Moura dispondo as coisas conforme ao estado prezente mandou marchar o Sargento mor do estado Diogo de Campos Moreno, com o Capitão Henrique Afonso, com cento, e vinte soldados pessoas nobres, e se foi em bateis para o dito forte Sam Luís, onde depois de Reconhecido pelo dito sargento mor, e pelo engenheiro mor fran.co de Frias de Mesquita o d. Capitão Mor Alexandre de Moura entrou com a dita Companhia no dito forte onde a porta lhe entregou as chaves dele o d. s.r de la Ravardiere geral dos franceses, e depois de aver reconhecido todos os particulares do d. forte, e artilharia deixando lhe a dita Companhia de guarda com o dito sargento mor em seu lugar ouve a dita posse por tomada em nome, e por sua Mag. de [...] ( ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO, 1905, p. 227/229)
Os portugueses tomaram posse do forte São Luís dos franceses e mudaram o nome para São Felipe, sendo reconstruído em pedra e cal. Essa data é considerada um marco da expulsão dos franceses e do início da colonização portuguesa no Maranhão.
A historiografia tradicional maranhense, sempre
afirmou que em 31 de outubro de 1615, Jerônimo de Albuquerque Maranhão acampou
com suas tropas na Fonte das Pedras, quando fazia o cerco ao forte Francês.
Alexandre de Moura, assim que entra na barra do
Maranhão, uma das suas primeiras ordens foi mandar “marchar Hierônimo de d'Albuquerque, a que com trezentos homens da sua
gente [...] se pusesse pela parte de terra à vista do Forte São Luís,"
confirmando assim, essa ideia de que houve realmente um cerco por terra. Isso
consta no seu Relatório de 1616.
Ravardière, cercado por terra pelas tropas de
Jerônimo de Albuquerque Maranhão e bloqueado por mar pela armada de Alexandre
de Moura, ficou sem alternativa, tendo que render-se pacificamente, sem
disparar um único tiro e aceitar todos os termos do "acordo" de
rendição imposto pelos portugueses.
* Historiador, professor, membro
correspondente dos Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), Instituto
Histórico, Geográfico, Genealógico de Sorocaba (IHGGS), Centro de Investigação
Joaquim Veríssimo Serrão (CIJVS/Portugal) e Presidente do Instituto Histórico e
Geográfico do Maranhão (IHGM) / eugeslima@gmail.com
Comentários
Postar um comentário