380 ANOS DA INVASÃO HOLANDESA NO MARANHÃO (1641- 2021)


EUGES LIMA

Historiador e Presidente do IHGM

 

Esse é um dos capítulos mais importantes da nossa história colonial. Há cerca de 380 anos, no dia 25 de novembro de 1641, uma poderosa esquadra holandesa, formada por dezenove navios, dois mil soldados, invadiram a Ilha de São Luís. Essa ocupação se deu no contexto da ocupação holandesa no Nordeste brasileiro. Num primeiro momento na Bahia (1624-1625), depois, em Pernambuco (1630-1654) e finalmente no Maranhão (1641-1644).

É famoso o clichê histórico da colonização ludovicense: “fundada por franceses (há controvérsias), colonizada por portugueses e invadida por holandeses”, então, aproveitando o ensejo dos três séculos e oitenta anos dessa invasão, vamos conhecer um pouco dessa história.

Os holandeses, instalados em Pernambuco já algum tempo, no seu projeto de ocupação e ampliação dos seus domínios no Nordeste, resolveram também ocupar o estado do Maranhão, visando sua produção açucareira, além de uma porta de entrada para a região amazônica. Como disse Josué Montello em Os Holandeses no Maranhão (1946): “[...] essas causas em nada foram a finalidade altruística de plantar a civilização neste pedaço do mundo. Foi na realidade um pesado fator econômico que armou as naus flamengas.”

No dia 25 de novembro, a poderosa esquadra comanda pelo Vice-Almirante João Corneles Lichthardt, surge na baía de São Marcos, para fugir do alcance da artilharia do forte São Felipe, entra na embocadura do rio Bacanga e desembarca na praia do Desterro com cerca de mil soldados e sobem até o altiplano onde estava localizada a ermida Nossa Senhora do Desterro que é saqueada pelos invasores. Em seguida, casas dos moradores são invadidas e roubadas em várias ocasiões. O saque, a pilhagem e a profanação de templos, foi uma marca desses primeiros dias de invasão flamenga. Muitos moradores fogem para as matas da ilha e até para o Continente.

Após essas primeiras hostilidades, as tropas do Coronel Koin Anderson, finalmente, marcham para a fortaleza portuguesa que é ocupada sem resistência por parte do governador Bento Maciel Parente, até porque não tinha forças para tal.  A partir daí, a ilha de São Luís passa a estar sob as ordens do Príncipe Maurício de Nassau, ampliando os holandeses o seu domínio para o Norte. Depois de conquistarem a Ilha de São Luís, os holandeses partem para o interior, em direção ao Vale do Itapecuru, tomam o forte do Calvário e ocupam os cinco engenhos de açúcar dessa região.

Após dez meses de ocupação holandesa no Maranhão, em 30 de setembro de 1642, tem início no Itapecuru, a reação portuguesa. Muniz Barreiros e mais cinquenta homens, usando de táticas de guerrilhas, vão retomando dos holandeses, um a um, os engenhos de açúcar e a fortaleza do Calvário, situada na embocadura do rio.

Empolgados com as vitórias em Itapecuru, as tropas portuguesas, ganham mais adeptos e passam para Ilha de São Luís. Em 21 de novembro de 1642, as tropas lusas, comandadas por Muniz Barreiros e Teixeira de Melo, emboscaram a coluna inimiga do comandante Sandalim e a derrotam. Essa batalha ocorreu na região do rio Cutim, onde hoje fica o monumento do Outeiro da Cruz que em placa de mármore já desgastada, possui a seguinte inscrição: A TRADIÇÃO POPULAR CONSAGROU ESTE/ MONUMENTO À MEMÓRIA DOS BRAVOS QUE/ AO MANDO DE MONIZ BARREIROS E/ TEIXEIRA DE MELLO EXPULSARAM/ OS HOLANDEZES DA CAPITANIA. 30-IX-1642/21-XI-1642/26-I-1643/28-11-1644.

O monumento do Outeiro da Cruz foi inaugurado em 1901, para homenagear os combatentes luso-brasileiros que tombaram no local e lutaram pela expulsão dos invasores holandeses e ao mesmo tempo, marcar o local dessa batalha que representou a primeira vitória portuguesa na Ilha do Maranhão que somada a mais outras duas (Largo do Carmo), iriam culminar na expulsão definitiva dos holandeses de terras maranhenses.

 


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