O FIM DO JORNAL IMPRESSO
por EUGES LIMA (historiador)
Para um leitor, como eu, pertencente à geração
X (35-49 anos), e mais que isso, alguém que coleciona livros raros (bibliófilo),
que colecionava revistas, recortes de jornais... Que cresceu também a partir do
paradigma do impresso, a quem não basta ler; é preciso ter o contato físico,
guardar, acumular, estimular os sentidos... Cheiro, textura... Ter que encarar
o fim da Era do Impresso, não é algo tão fácil, pois é ter que encarar que o
mundo em que você cresceu, que você criou suas referências, está deixando de
existir. O mundo hoje é cada vez mais virtual que real, um mundo digital, esta
é a marca desses tempos, principalmente depois da pandemia, que deu uma acelerada
a esse processo, mas que a bem da verdade, já estava em curso há algum tempo.
Assim
como o advento da imprensa no século XV, com Gutemberg, representou uma
revolução na história da comunicação, da informação, do conhecimento; propiciando
o surgimento do jornal, do livro impresso, um divisor de águas na história da
humanidade e que depois de sua invenção o mundo não foi mais o mesmo. Seis
séculos depois, a internet está para os dias de hoje, como a imprensa de
Gutemberg estava para os chamados Tempos Modernos.
A
internet é a grande revolução do nosso tempo e foi depois dela que a vida dos
jornais começou a se transformar paulatinamente até chegar ao momento que
estamos presenciando, o fim dos jornais impressos. Com o surgimento da
internet, com os blogs, os sites, as plataformas, com as novas gerações de
leitores que já nasceram num mundo digital; com a evolução do celular, de onde
você pode acessar tudo, o jornal tradicional foi perdendo espaço, protagonismo
e a primazia da noticia. Suas tiragens foram caindo a cada dia, até se tornarem
inviáveis do ponto de vista financeiro.
O
fim do jornal impresso é uma tendência mundial, nacional e regional, as
estatísticas são claras nesse sentido, o impresso não se paga mais, enquanto o
on line, cresce à passos largos. Antes da internet, era preciso primeiro
imprimir para que depois pudéssemos ler seu conteúdo, depois da internet essa
ordem foi invertida, lê-se primeiro, se for necessário, imprime-se. Agora, até
a necessidade de impressão já se tornou obsoleta.
Essas mudanças
e seus desdobramentos representam transformações culturais inevitáveis e também
não aconteceram abruptamente, são processuais. Primeiro, ocorreu a coexistência
com as versões on line, agora, presenciamos os jornais on line, superando ou
substituindo os jornais impressos.
O Estado do Maranhão, na verdade, segue uma tendência mundial e que provavelmente terá efeito dominó em relação aos demais jornais impressos do Maranhão, é apenas uma questão de tempo. A ironia da história nesse sentido, é que no final deste mês, dia 31, comemora-se os 200 anos da chegada da primeira tipografia ao Maranhão (Tipografia Nacional) e no próximo dia 10 de novembro, comemora-se o Bicentenário da Imprensa no Maranhão (1821/2021), com a primeira publicação impressa do jornal “O Conciliador do Maranhão”, mas em que pese isso, a imprensa continua sua trajetória, se reinventando, sem papel, mas em sua versão on line, sendo sempre resultado do seu tempo.
Caro professor Euges! Oportuno registro: ano 200 do começo do Impresso no Maranhão; ano 1 do seu fim. O que é preciso combater tenazmente é a estupidez de que não é mais preciso ler, muito disseminada junto a parcelas importantes da população. Suposição de que as frases curtas e rapidamente passadas nas redes sociais substituam eficazmente o texto mais elaborado. Mas não devemos mesmo ser surpreendidos com as mudanças sociais na História.
ResponderExcluirVerdade
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