A LENDA DO CARRO DE ANA JANSEN
por EUGES LIMA
Historiador e Presidente do IHGM
Tinha ancestralidade alemã, holandesa, inglesa
e portuguesa, porém, quando nasceu, os Jansen já se encontravam pobres no
Maranhão, portanto, veio de origem humilde, mas recusou-se a aceitar sua
condição social e lutou muito com todas as suas fibras para se tornar a mulher
mais rica e poderosa não só do Maranhão, mas de todo o Brasil Imperial.
Por conta desse empoderamento feminino em pleno
século XIX, incomum para o seu tempo, em meio a uma sociedade maranhense
patriarcal, Ana Jansen, enfrentou muita oposição e teve muitos adversários
poderosos – comendador Meireles, Cândido Mendes, entre outros – que trataram
possivelmente de criarem uma imagem negativa a seu respeito. Não que Donana
fosse santa, mas também não deveria ser um demônio.
A partir dessas imagens criadas e certamente
exageradas de uma sádica senhora de escravos, ainda contemporâneo a sua
existência, anos depois de sua morte, isso foi material fértil para o
surgimento de lendas e crendices populares que ultrapassaram séculos e que
povoam o imaginário coletivo dos ludovicenses; a exemplo da famosa lenda do
“Carro (carruagem) de Ana Jansen” que reinventada com muitas variações, chegou
com força até o século vinte um.
Pois bem, fiz esse preâmbulo, para compartilhar com
vocês, uma versão que acredito ser provavelmente a primeira ou uma das
primeiras, registrada em livro sobre essa lenda, portanto, ainda com seus
elementos originais, colhidos da tradição oral e publicada pelo escritor
Astolfo Serra em 1941 no livro “Terra Enfeitada e Rica”, edição Imparcial,
conforme sua versão:
“[...] Por tudo isso Ana Jansen anda a cumprir rude
penitência fora de horas pelas ruas da cidade histórica. Todas às
sextas-feiras, do antigo cemitério dos Passos, quando a cidade mergulha no
sono, o seu carro dispara pelas ruas sombrias. As rodas desse veículo rangem,
quase gemendo nos mancais. O tropel da parelha sacode o calçamento e o rumor do
carro desperta a canzoada, que o persegue aos gritos e uivos sinistros do
pavor. O carro faz sua ronda puxado por duas mulas sem cabeça que saltam pelos
cascos faiscações esverdeadas. Há de quando em quando, um longo gemido,
dolorido, profundo, arrepilante. No céu as estrelas se ocultam. No espaço os
rasga-mortalhas riscam o silêncio. Na cidade todos se recolhem com medo e o
carro dispara até o galo cantar pela primeira vez.”
Astolfo Serra em seu texto reforça essa imagem de uma Ana Jansen má, cruel, que maltratava seus escravizados. A lenda da Carruagem simboliza uma punição, uma maldição à alma da poderosa matrona ludovicense, infligida pelo imaginário coletivo popular; condenada a vagar pela eternidade pelas ruas do Centro de São Luís – aterrorizando os notívagos incautos – “pela violência com que mandava castigar aos seus escravos por qualquer falta’’.
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